segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

4 Os satélites em órbita.

O último exemplo que vamos abordar é o caso da Estação Espacial Internacional (ISS).  Ela é um dos milhares de satélites que orbitam a Terra. As funções desses satélites são várias. Temos, por exemplo, satélites de comunicação[1], de imageamento[2], satélites espiões[3] e telescópios[4]. Além de todos os satélites artificiais, colocados em órbita, por ação humana, temos ainda a Lua. Nosso único satélite natural. Porém não vamos nos dedicar a falar de todos eles. Tentaremos mostrar de um modo geral como um satélite é colocado em órbita e nos preocuparemos com a explicação do ambiente de Microgravidade da ISS.
Para chegarmos a entender o que é uma órbita, falaremos de uma experiência de pensamento proposta por Isaac Newton. A experiência do canhão orbital de Newton, ilustrada na figura 9 propunha que, se um canhão fosse colocado no alto de uma montanha em um planeta hipotético sem atmosfera, e dele fosse lançado um projétil, este cairia a uma distância proporcional à velocidade de lançamento. Aumentando cada vez mais a velocidade, esse projétil deixaria de interceptar a superfície do planeta e entraria em uma órbita descrevendo uma trajetória com a forma de uma circunferência.

Figura 9. O canhão de Newton. Figura da obra “Princípia” de Isaac Newton.

Para um planeta com a massa e o raio da Terra, sem atmosfera, o projétil deveria atingir uma velocidade de 8 Km/s para descrever tal circunferência em órbita, segundo Newton.
Sabemos hoje que as órbitas dos satélites são bem diferentes da órbita proposta por Newton. Não entraremos nos detalhes da descrição das órbitas. Porém precisamos saber que essa ideia de Newton é peça fundamental da sua Teoria da Gravitação Universal e que hoje, utilizamos essa ideia para colocar satélites em órbita.
O experimento mental do canhão de Newton nos serve para entendermos que um corpo em órbita está num movimento de queda. Se pensarmos em um lançamento horizontal sem resistência do ar, perceberemos que o movimento descrito pelo projétil, na direção vertical é uma queda livre. Pois bem, o experimento de Newton sugere que o projétil lançado pelo canhão está em um movimento idêntico ao que estudamos como lançamento horizontal, na cinemática. O projétil estaria submetido apenas à aceleração da gravidade local e a única diferença é que, devido a sua velocidade de lançamento, a sua trajetória não interceptaria a superfície do planeta.
Para colocarmos um satélite em órbita hoje, não utilizamos um canhão. Essa tarefa cabe aos foguetes. Os satélites são levados até uma certa distância da superfície da Terra correspondente a uma velocidade de órbita. Estando com essa velocidade específica e na altura correta, o satélite pode ser simplesmente abandonado naquela posição e permanecerá no movimento de queda livre, como se fosse lançado horizontalmente em relação à superfície da Terra. A força gravitacional se encarrega de mantê-lo em órbita. Como ilustra a figura 10.
Figura 10. Satélite em órbita. A força gravitacional atua como resultante centrípeta.

Neste caso, a força da gravidade da Terra atua com resultante centrípeta sobre o satélite, variando a direção do vetor velocidade e mantendo o satélite em sua órbita.
Podemos então deduzir que, um corpo em órbita está em queda livre e como já vimos nos tópicos anteriores, a queda livre corresponde a um ambiente de Microgravidade. Logo, concluímos que a estação espacial internacional, que é um satélite, está em queda livre e assim entendemos por que os astronautas à bordo da nave estão sempre “flutuando”. É importante ressaltar que o valor da aceleração gravitacional na altura da órbita da estação é de 8,7m/s2. Ou seja, bem próximo do que temos na superfície da Terra (9,8 m/s2). Isso quer dizer que além de existir gravidade ela não é pequena como sugere o termo Microgravidade.
Relembrando, o termo Microgravidade é utilizado para expressar uma situação onde a medida de peso aparente de um objeto é muito pequena quando comparada com a medida do peso real.




[1] Empresas de telecomunicação utilizam satélites para transmitir seus sinais de celular e TV, por exemplo.
[2] Satélites que fazem imagens da Terra com diversas finalidades como por exemplo monitorar desmatamentos, incêndios florestais, comportamento dos oceanos e previsão do tempo.
[3] Satélites de uso militar.
[4] Telescópios que estão em órbita captam imagens melhores, pois estão menos suscetíveis à aberração provocada pela atmosfera da Terra.